
Era uma vez, há muitos anos, em uma dessas florestas de que já não se tem notícia, uma comunidade de sapos que habitava um dos lagos da região. Eram sapos muito simples em sua desordenada atividade de sobreviver. mas, um dia, um desses sapos, muito jovem e também ganancioso, decidiu ir-se dali, morar na capital.
E foi com uma pequena trouxa nas costas, coragem e nada mais. Na cidade estudou e aprendeu também as malandragens necessárias para vencer na vida, mas ali, entre tantos sapos malandros e com a gigantesca cidade a podar-lhe os sonhos, ele não poderia ser importante. Resolveu voltar para a floresta e, ao chegar no lago, foi recebido com grande alvoroço por ter estado na capital, onde, dizem, os sapos devoram-se uns aos outros. Foi entao que este sapo, agora cheio de astúcia, viu sua oportunidade junto àqueles sapos ignorantes:
Meus queridos companheiros sapos, na cidade eu aprendi muitas coisas e descobri que um líder é essencial para que nos desenvolvamos, por isso voltei. Agora que sou um sapo instruído, serei seu líder e trarei o progresso para nossa comunidade.
Os sapos, ingênuos, aceitaram sem contestar, saudaram-no até. O desenvolvimento veio de fato. O lago virou capital, surgiu a divisão do trabalho, depois a divisão de classes, e o novo líder de tudo se favorecia. Porém, um dia, morreu o grande líder sem deixar sucessor e sem ensinar a ninguém as artes da malandragem. Quanto aos pobres sapos do pequeno lago na escondida floresta, acabaram por devorarem-se uns aos outros na ganância e ignorância do poder.
(Fortaleza, Dezembro de 2005)